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Yogaterapia como ferramenta de Cura Física e Espiritual

A Yogaterapia não é separada do estudo do Yoga, mas é uma aplicação especializada que representa aprofundamento e extensão das áreas de conhecimento de um professor de Yoga

O que Yogaterapia?

Yogaterapia é a aplicação das ferramentas, técnicas, metodologia e filosofia do Yoga para promover a saúde e a cura. A Yogaterapia requer uma compreensão de todas as facetas do Yoga em relação à saúde e cura, incluindo anatomia, fisiologia e cinesiologia de uma perspectiva médica ocidental, bem como a compreensão das condições comuns de saúde, especialmente aqueles que têm o componente de estresse. 

O Yogaterapeuta é um profissional com a compreensão aprofundada dos benefícios e contraindicações de uma grande variedade de práticas de Yoga, incluindo ásana (posturas físicas), pranayama (exercícios de respiração), mudrá (gestos com intenções), Yoga nidra (relaxamento) e meditação em relação a condições específicas de saúde, permitindo o desenvolvimento de programas individualizados de saúde e cura baseados no Yoga.

O Yogaterapeuta também tem uma compreensão aprofundada da Ayurveda em relação à aplicação de ferramentas e técnicas de Yoga para cultivar o equilíbrio ao nível dos três doshas. Além disso, o Yogaterapeuta desenvolve as ferramentas e técnicas para trabalhar com confiança com indivíduos ou grupos especiais atendendo às necessidades de cada um, desenvolvendo técnicas especiais para pessoas com condições de saúde mais urgentes, como ansiedade e depressão, problemas cardiovasculares e câncer. Essa compreensão mais profunda, levando em consideração todas as facetas da jornada de vida de um indivíduo, inclui desafios psicoemocionais e a busca pelo propósito e o significado da vida através do autoconhecimento. O Yogaterapeuta incorpora uma exploração aprofundada da vida como um processo de cura. 

Yogaterapia Relativa e Absoluta

A Yogaterapia pode ser dividida em duas grandes categorias para explorar e entender como o Yoga promove a saúde e a cura. A primeira categoria é a Yogaterapia Relativa, que engloba todos os métodos e técnicas do Yoga. A segunda é a Yogaterapia Absoluta, que é a cura espiritual através do reconhecimento do nosso verdadeiro Ser. Dentro de todas as tradições do Yoga ao longo de sua extensa e diversificada história, os métodos e técnicas são sempre os meios, enquanto o autoconhecimento e a cura espiritual são o objetivo final da jornada.

Ao final, a Yogaterapia é a integração, equilíbrio e harmonia da Yogaterapia Absoluta e Relativa através da compreensão clara do papel e da importância de cada uma. Quando a metodologia e a realização se fundem perfeitamente, elas são como as duas asas de um pássaro que nos permitem mover-nos para a saúde perfeita e a cura sem esforço. Os métodos e técnicas do Yoga são essenciais e únicos em sua profundidade e variedade, permitindo o cultivo da saúde e cura em qualquer indivíduo, independentemente da idade e das necessidades individuais. Por mais poderosas e únicas que sejam essas técnicas, elas devem ser sempre mantidas na perspectiva de seu papel como veículos, como um meio para o culminar da jornada como auto cura e despertar espiritual.

Yogaterapia como a União da Técnica e do Autoconhecimento

A Yogaterapia une as técnicas para despertar espiritual que são a base da cura do Yoga, com a compreensão de que as técnicas são sempre um veículo para a jornada de reconhecimento do nosso verdadeiro Ser. Essa união é incorporada nos Angas do Yoga. 

Os Angas fornecem um passo a passo, começando com uma base sólida na técnica e metodologia como base para as práticas internas e que nos levarão ao reconhecimento de nossa essência espiritual. Há várias apresentações importantes dos angas do Yoga ao longo da linha do tempo da história do Yoga e aqui, trazemos uma introdução a três dos mais importantes em relação à saúde e cura.  

Dentro da evolução destes Angas, vários aspectos se destacam. O primeiro deles é um foco crescente em metodologia e técnica, aumentando o número de técnicas exponencialmente. O segundo é o foco no corpo, na saúde física e na cura. Por fim, e o mais importante, mesmo com um foco maior na saúde física, o objetivo do Yoga do despertar espiritual está sempre no centro da jornada, com as técnicas como apoio, como veículo.

Os Angas do Yoga nos Upanishads

A Maitrayaniya Upanishad de aproximadamente 3.000 anos atrás é a primeira codificação dos Angas do Yoga que são apresentados como: Pranayama (regulação da respiração), Pratyahara (retirada dos sentidos), Dhyana (meditação), Dharana (concentração), Tarka (contemplação) e Samadhi (absorção). 

Esta elaboração dos angas do Yoga é fundamental à medida que se move do corpo, do nível do nosso ser físico, para o nosso corpo sutil através da respiração. Com corpo e respiração como base, equilibramos a mente através do direcionamento de nossos sentidos para dentro, da meditação, da concentração e da contemplação. 

Todos esses passos culminam em união com nosso ser espiritual em samadhi. Um elemento que ainda não está presente é o ásana, postura, mostrando-nos que não havia se desenvolvido como uma prática na época, enquanto pranayama já estava bem desenvolvido. Um elemento que aparece na lista que não reaparece mais tarde é tarka, que é definido como “o processo de questionamento que leva a uma conclusão particular”. É uma contemplação do nosso próprio processo de pensamento e situações em nosso entorno, considerado um elemento vital do Yoga para a cura.

Os Angas da Yoga em Nos Yoga Sutras de Patanjali 

Nos Yoga Sutras de Patanjali de aproximadamente 2.000 anos atrás, a saúde no sentido final é o reconhecimento de nós mesmos como purusha, nosso Ser espiritual. Os angas do Yoga servem como um mapa da jornada que abrange corpo, respiração, sentidos e mente como veículos para despertar como purusha, consciência pura. 

Os angas formam um mapa completo para a jornada da saúde, cura e despertar, começando com nossa relação com nosso entorno (Yama), nossa relação com nós mesmos ao longo da jornada espiritual (Niyama), nossa relação com o corpo (Asana), nossa relação com nossa respiração (Pranayama), nossa relação com os sentidos (Pratyahara), nossa relação com a mente (Dharana), nossa capacidade de integrar o corpo, respiração, sentidos e mente como porta para o nosso verdadeiro Ser através da meditação (Dhyana). 

O Anga final, Samadhi, é a união com o nosso ser espiritual interior. Ao longo desta jornada, cultivamos a saúde em todos os níveis. Nos Sutras de Yoga, ásana é definido com “postura estável e confortável”, enquanto refere a posturas sentadas para meditação e não à variedade de ásanas usados hoje, mostrando que a postura corporal se tornou uma base da prática espiritual.

Os Angas da Yoga nos Textos de Hatha Yoga

O poder curativo do Yoga vem de sua abordagem multidimensional que abrange o corpo, a respiração, os sentidos e a mente. Cada uma das principais áreas da prática de Yoga desempenha um papel fundamental nesse processo. O Gheranda Samhita apresenta a estrutura geral das práticas e seus benefícios. Esta organização difere ligeiramente dos Sutras de Yoga, na forma de que os Yamas e Niyamas foram movidos para a introdução do texto. Mudras foram adicionados à lista e pranayama estão mais perto de samadhi. Concentração, dharana não está incluída, pois seria considerada como uma faceta da meditação.

Esse modelo de prática também mostra a integração da Yogaterapia relativa e absoluta. Os angas anteriores se concentram principalmente em métodos e técnicas, enquanto os angas posteriores usam técnicas, mas o foco está claramente no reconhecimento do nosso Ser interior. Como na analogia da escadaria (adhirohin), cada passo nos guia mais perto do culminar do Yoga como despertar espiritual.

Os angas do Yoga, tanto em seus componentes individuais, quanto na forma de um caminho acessível do material ao sutil, tornam a tecnologia do Yoga única dentro de todas as tradições da espiritualidade. O poder e a integralidade do caminho do Yoga se tornam claros. 

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A Natureza da Yogaterapia Absoluta

O que é espiritualidade?

Para uma compreensão mais profunda do processo de cura na Yogaterapia, exploraremos tanto a Yogaterapia Absoluta quanto a Relativa em detalhes. Começamos com a Yogaterapia Absoluta porque todos os métodos e técnicas de Yoga servem, em última análise, como uma base e um portal para a cura absoluta que se desdobra por meio do autoconhecimento e do despertar espiritual. Começamos nossa exploração da Yogaterapia Absoluta definindo espiritualidade.

A palavra inglesa “espírito” spirit vem do latim spiritus, e significa “respiração”. Por meio da espiritualidade, experimentamos não apenas o reino material que pode ser visto com nossos sentidos, mas as forças sutis, como nossa respiração, que, embora invisíveis, são essenciais para a vida. O espírito é a inteligência e a energia, a fonte e a semente que trazem a criação material à existência e a sustentam a cada momento. 

Nosso reconhecimento e conexão com essa fonte e semente onipresentes é espiritualidade. O despertar espiritual é a experiência vivida dessa energia e inteligência como a fonte e a essência do nosso próprio Ser. À medida que me torno um com a fonte e a semente das criações, há uma experiência direta e imediata de nossa identidade mais profunda e nosso propósito e significado de vida, de modo que o despertar espiritual e o autoconhecimento se unem perfeitamente. Essa experiência sempre gera harmonia dentro do corpo e em nosso entorno e, portanto, também é sinônimo de autocura.

A espiritualidade pode ser incorporada a uma estrutura religiosa, mas é essencialmente distinta. A religião é baseada principalmente na crença; um conjunto de doutrinas ou credos na natureza de Deus ou uma vida após a morte que dependem de autoridade confiável, mas geralmente não são verificáveis. Espiritualidade é uma experiência da inteligência e energia no coração da criação dentro do nosso próprio Ser que gera um conhecimento da nossa unidade com todas as coisas e um senso imediato e inquestionável de Autoconhecimento como propósito e significado da nossa vida.

O que é Cura?

A palavra cura vem do termo inglês antigo “haelen”, que significa “totalidade” e se refere ao processo de se mover em direção a um estado desejado de totalidade, saúde e integração do corpo, mente e espírito. Cura é a restauração da totalidade por meio da integração das forças que restauram, transformam, sustentam e nutrem a pessoa inteira em todas as dimensões da vida. Cura, neste sentido, é diferente de eliminar todas as evidências de uma doença; significa se tornar inteiro. Cura é uma restauração da totalidade por meio de um processo de transformação pessoal que leva a novas maneiras de ver, de modo que o ser curado seja distinto e frequentemente mais inteiro do que antes do início da doença.

A cura ocorre em vários níveis diferentes, e é a integração de todos esses níveis que representa a saúde global como totalidade. O modelo dos Cinco Koshas apresentado no Taittirya Upanishad, de 3.000 anos atrás, fornece uma estrutura para os diferentes níveis de cura. Kosha significa uma “bainha” e se refere às diferentes facetas do nosso ser, cada uma das quais deve ser trazida à consciência e tornada inteira ao longo da jornada de cura.

Annamaya KoshaAnna se refere ao corpo físico e Annamaya kosha é a dimensão física do nosso ser, incluindo todos os sistemas do corpo e sua fisiologia. A cura é o processo que leva todos os sistemas do corpo físico a um estado de integração e harmonia que lhes permite funcionar de forma ideal. Todas as práticas de Yoga apoiam a saúde de Annamaya Kosha, em especial os ásanas.

Pranamaya KoshaPrana é a energia da força vital, e o pranamaya kosha é a dimensão energética do nosso ser, a energia sutil que dá vitalidade à nossa fisiologia. A cura é a reconexão com fontes de prana, incluindo natureza, ar fresco, água pura e nutrientes vitais. O pranamaya kosha envolve a saúde do corpo sutil, incluindo chakras, pranavayus e nadis, que devem estar em harmonia para que nosso ser físico funcione de forma otimizada. Todas as práticas de Yoga apoiam a saúde de Pranamaya Kosha, em especial os pranayamas.

Manomaya Kosha Mano se refere à mente e Manomaya kosha é a dimensão psicoemocional do nosso ser que abrange nossos pensamentos e sentimentos. A cura é o processo de equilíbrio psicoemocional e a harmonia dentro do nosso próprio ser e em nosso entorno. Envolve a aceitação de nossos pensamentos e sentimentos e também a capacidade de encontrar descanso e paz para que a mente possa ser curada. Todas as práticas de Yoga apoiam a saúde de Manomaya Kosha, em especial os yamas, nyamas, pratyahara e dharana.

Vijnyanamaya Kosha – Vijnyana significa “sabedoria superior” e o Vijnyanamaya kosha é aquele aspecto da mente que tem a capacidade de ver e liberar os padrões de condicionamento que nos prendem à personalidade com seus hábitos e tendências que são a fonte de limitação e sofrimento. A cura é a liberdade, facilidade e autenticidade que surgem à medida que crenças e tendências limitantes são liberadas. Todas as práticas de Yoga apoiam a saúde de Vijnyanamaya Kosha, em especial os dhyana, a meditação.

Anandamaya KoshaAnanda é alegria, totalidade, bem-aventurança e êxtase, que surgem do reconhecimento do nosso próprio Ser interior. Esta experiência é refletida em qualidades positivas, incluindo autonomia psicoemocional, equanimidade e paz interior que nos permitem viver em harmonia dentro do nosso próprio ser e em nosso entorno. O despertar dessas qualidades de dentro do nosso ser é uma base de cura.

Brahman – Brahman é o absoluto, a inteligência e a energia no coração da criação. Nossa integração e unidade com nosso verdadeiro Ser é simultaneamente um conhecimento de nós mesmos como um com toda a criação. Como um com a criação, sem nenhuma sensação de que algo está faltando ou incompleto, é a própria essência da cura experienciada através das experiência de samadhi

Prática Experiencial:  

Reflita sobre os Cinco Koshas e seu nível de saúde e cura em cada um.

Por Joseph Le Page

Sobre o autor

Joseph Le Page é norte-americano, naturalizado brasileiro, com mestrado em educação experiencial. Em 1993, ele fundou o Integrative Yoga Therapy, uma das primeiras instituições a levar o Yoga para o sistema médico de saúde nos EUA. Em 1995, ele criou o programa de Yoga para Pacientes Cardíacos, no California Pacific Medical Center, San Francisco, Califórnia (EUA). Nos últimos 20 anos, formou mais de 3.000 professores de Yoga e Yogaterapeutas pelo mundo.

Joseph integra a visão do Yoga, da pedagogia e da arte de curar, formando um programa de ensino de Yoga criativo e abrangente. Seu enfoque é apresentar a riqueza e profundidade da ciência do Yoga de maneira altamente experiencial e de fácil compreensão e, sobretudo, com bom humor. É co-fundador do Centro de Yoga Montanha Encantada, em Garopaba, SC, o maior centro de retiro de Yoga e autoconhecimento da América Latina, inaugurado em 2003 e presidente do Instituto Yoga Integrativa, entidade sem fins lucrativos, localizada no Centro de Yoga Montanha Encantada, que promove programas de autoconhecimento e bem-estar, assim como patrocina programas gratuitos de Yoga e Yogaterapia para a saúde da comunidade.

Joseph é diretor do programa de Yogaterapia Coração Saudável, realizado desde 2006 em Garopaba, SC, em parceria com o PSF-NASF de Garopaba. Atualmente, o programa Coração Saudável atende pacientes em Garopaba, Imbituba e no Hospital Universitário de Florianópolis. É coautor do livro Guippy – Guia Prático de Posturas de Yoga, um dos materiais mais utilizados em programas de treinamento de professor nos EUA e no Brasil, publicado pela Editora Yoga Integrativa. É também coautor do livro Mudrás para Cura e Transformação, publicado em inglês nos EUA e a ser lançado em português no início de 2019 pela editora.

O Futuro da Humanidade: Sobrevivência dos Mais Espirituais através da Meditação

Relato-vos os meios a serem empregados para a destruição das doenças;
Sem a prática do yoga, como o conhecimento poderia libertar o Atman?
Inversamente, como poderia a prática do yoga por si só, desprovida de conhecimento, ter sucesso na tarefa?
O buscador da Libertação deve direcionar suas energias para ambos simultaneamente.

Yogatattva Upanishad versículos 14–15

 A história evolutiva humana é caracterizada por capacidades cognitivas cada vez maiores que proporcionam uma vantagem evolutiva em termos de sobrevivência, sucesso e procriação, o que nos tornou a espécie dominante no planeta hoje. A evolução como a conhecemos sempre se concentrou na competição e no sucesso por recursos, procriação e hierarquia social. 

Do ponto de vista espiritual, a intenção última da evolução é mais do que estas três, pois se a evolução é apenas uma continuação da sobrevivência do mais apto, então o impulso para expandir, competir, conquistar e ter sucesso parece estar nos levando em direção à extinção do planeta e a raça humana como espécie.

É possível que a evolução esteja agora caminhando para uma nova fase que pode ser chamada de “Sobrevivência dos mais Espirituais”. Algumas pesquisas neurológicas apoiam isso através das mudanças observadas na estrutura cerebral dos meditadores. 

A pesquisa mostrou que cérebros das pessoas que praticam meditação perdem menos massa cinzenta no cérebro com o envelhecimento (UCLA Florian Kurth). A pesquisa também descobriu que a meditação aumenta a espessura cortical do hipocampo relacionada à regulação da emoção, enquanto diminui o volume celular na amígdala que está relacionado à resposta de luta ou fuga. No modelo tradicional de sobrevivência do mais apto, isto poderia ser uma desvantagem, mas num ambiente em que o principal assassino é o stress crônico e não o tigre dente-de-sabre, torna-se uma vantagem.

Verificou-se também que estas alterações no cérebro estão associadas à melhoria do humor e do bem-estar, o que num ambiente estressante, promove não só a saúde, mas também o sucesso em qualquer área de atividade.  

A meditação também melhora a concentração e a atenção, habilidades essenciais para o sucesso e a realização em qualquer área (Michael D. Mrazek). Além disso, um estudo descobriu que os meditadores vivem mais e têm um risco muito menor de doenças cardíacas e câncer.  Esses benefícios não se limitam à meditação, mas também valem para quem pratica qualquer tipo de espiritualidade. Um estudo da Duke University mostrou que, para aqueles que recebem qualquer forma de apoio espiritual, as taxas de doenças graves podem ser até 40% menores. (Harold G. Koenig, MD)

Estes estudos apontam para a possibilidade de que o futuro da evolução, tradicionalmente entendido como a sobrevivência dos mais aptos, possa, no contexto moderno, significar a sobrevivência dos mais saudáveis, o que pode ser traduzido como aqueles mais capazes de lidar com o stress. Como vimos, a espiritualidade é um dos melhores apoios para lidar com o estresse.

 A espiritualidade também inspira um sentimento de unidade com a criação e um sentimento de respeito e unidade com o mundo natural. Portanto, se a evolução nos leva a níveis maiores de sucesso como espécie, a espiritualidade pode agora ser a sua expressão mais verdadeira e talvez a única solução para o futuro do nosso planeta e da humanidade como espécie.

 Reflexão: Existe alguma outra alternativa para a evolução da espécie humana senão através do reconhecimento da nossa totalidade inerente na unidade com toda a criação?

Joseph Le Page
Yoga Integrativa

Saiba mais: Mudrás para Cura e Transformação

Āsana na Yogaterapia: conheça os benefícios do Yoga

Āsana significa “assento” e, em seu uso mais antigo, refere-se a posturas sentadas para meditação. A importância da postura apropriada para a meditação é enfatizada em todas as principais tradições da espiritualidade indiana, começando com as escrituras budistas e jainistas de 500 AC. Um dos primeiros usos da palavra āsana como postura correta para meditação é do Bhagavad Gita de aproximadamente 300 AC.

O uso da palavra āsana nos Yoga Sutras de Patanjali está claramente relacionado às posturas sentadas para meditação mas, como veremos, é apresentada uma filosofia de āsana que abrange toda a tradição da prática de āsana.

Embora āsana como assento para meditação seja o uso mais comum, há uma tradição anterior de postura como veículo para transformação espiritual nas austeridades dos antigos ascetas conhecidos coletivamente como Śramaṇas, que remontam ao tempo dos primeiros Upanishads de 3.000 anos atrás. Embora esses ascetas normalmente mantivessem uma única postura em vez de uma variedade de posturas que evoluíram posteriormente, a intenção de queimar o karma e desenvolver força para alcançar a liberdade espiritual está claramente relacionada à intenção do Hatha Yoga.

É importante notar que o grupo de āsanas considerados originais é composto pelas posturas em pé, incluindo o Triângulo e muitas das variações do Herói, que podem ter influências da ginástica ocidental, bem como das artes marciais indianas. Também é claro que as posturas foram evoluindo ao longo da história do āsana e nunca houve um consenso absoluto sobre o que constituía um autêntico āsana. Talvez o melhor guia para o autêntico āsana não seja a forma da postura, mas a forma como ela é praticada, incorporada nos três sutras sobre o assunto fornecidos por Patanjali.

Āsanas nos Sutras

Embora se refiram a posturas sentadas para meditação, os três sutras sobre āsana dentro dos Yoga Sutras incorporam uma filosofia completa para a prática de todas as posturas de Yoga.

2.46 sthira sukham āsanaṁ

Āsana é uma postura estável e confortável.

Estas palavras sthira, constante e estável, e sukham, confortável, tranqüilo e agradável estão relacionadas a abhyasa, prática e vairaygya, desapego do Sutra 1.12. Eles também podem simbolizar a Yogaterapia relativa na forma de técnica e a Yogaterapia absoluta como a jornada de reconhecimento de nosso verdadeiro ser, inerentemente inteiro e completo.

 

2.47 prayatna śaithilyā ‘nanta samāpattibhyāṁ

(Obtido por) liberar esforço e tensão para se fundir com o infinito.

O segundo sutra apresenta a metodologia para alcançar esta postura; todo esforço e tensão são liberados, permitindo-nos fundir com o infinito, Ananta, que é nosso Ser interior ilimitado e fundir-se com o infinito.

 

2.48 tato dvandvā ‘nabhighātaḥ

Assim, invencibilidade, imunidade aos pares de opostos (é alcançada).

O terceiro sutra apresenta o benefício obtido com a postura estável e confortável, que é a invencibilidade em relação aos pares de opostos, todas as polaridades que caracterizam o reino de prakr̥ iti.

 

Os benefícios do asana na saúde e na cura 

  1. Cria um equilíbrio entre força, estabilidade e flexibilidade

A prática de Āsana otimiza o funcionamento dos ossos, articulações, músculos e fáscias como um sistema integrado, permitindo movimentos saudáveis para todas as faixas etárias. 

Isso é especialmente importante em relação à coluna vertebral, onde Āsana, praticado adequadamente, mantém a integridade das vértebras enquanto nutre os discos espinhais.

Exercício: Pratique aquecimentos na posição da Mesa (Sandharasana 11), incluindo Gato/Vaca (Marjariasana – 11) e depois os Alongamentos do Tigre (Chakoravakasana -12b), segurando o Tigre com a perna levantada, seguido do Pássaro do Sol (Chakoravakonasana – 12)  para experimentar um equilíbrio de força, estabilidade e flexibilidade.

 

  1. Fortalece o sistema esquelético colocando pressão sobre os ossos em todas as direções 

Os ossos se desenvolvem e mantêm a densidade em parte por meio do estresse colocado sobre eles de vários ângulos. Āsana é único em colocar forças sobre os ossos tanto horizontal quanto verticalmente. As posturas de Yoga também fortalecem os ligamentos e o tecido conjuntivo, além de melhorar a circulação para os ossos.

Exercício: A) para os braços. Pratique a postura da Prancha (Chaturanga Dandasana – 13), seguida da Esfinge (Purushamrigasana -37), postura do Infinito (Anantasana – 49) e braços da Águia (Dhyana Virasana) para sentir a pressão exercida sobre os ossos de vários ângulos.

B) para as pernas e pélvis. Pratique Herói Sentado (Virasana-27), Camelo (Ustrasana-44), Herói Reclinado  (Supta Virasana-45), Águia Reclinada (Garudasana-63).

 

  1. Otimiza o funcionamento do coração e do sistema circulatório

Āsana produz um efeito de compressão e imersão em todas as artérias e veias, contraindo-as totalmente e depois relaxando-as completamente. As posturas de Yoga também exercitam o coração aumentando a pressão sanguínea, seguido de relaxamento completo que suporta a variabilidade da frequência cardíaca, a capacidade do coração de responder às mudanças no ambiente interno e externo de forma rápida e suave para atender às necessidades percebidas. 

As posturas invertidas ajudam a regular a pressão sanguínea, exercitando os barorreceptores nas artérias carótidas e melhorando a circulação na cabeça, rosto e cérebro.

Exercício: A) Pratique a Face de Vaca (Gomukhasana – 23) com os braços na posição da Águia (Dhyana Virasana). Pressione os braços e as pernas juntos com força, depois solte e deite-se com o corpo em uma posição “X”, sentindo a circulação aumentada nas extremidades.

  1. B) Pratique a postura do Gafanhoto ou Meio Gafanhoto (Shalabhasana – 39), permitindo que a frequência cardíaca e a pressão sanguínea subam para o nível máximo de conforto. Descanse na postura da Criança  (Garbhasana – 52) e sinta a rapidez com que a frequência cardíaca e a pressão arterial se ajustam.
  2. C)  Entre na posição da Vela (Sarvangasana – 71) e sinta a leve ativação do sistema cardiovascular para bombear sangue para as pernas e pés. Sinta também o aumento da circulação na cabeça, rosto e cérebro.

 

  1. Otimiza o funcionamento do sistema respiratório

Āsana fortalece e alonga os músculos da respiração, mantendo a elasticidade no tecido pulmonar.

Exercício A) Cabeça ao Joelho em Torção (Parivritta Janushirshasana-55) para sentir a abertura dos pulmões em cada lado. Acentue os efeitos praticando Anuloma Krama pranayama na parte superior. Além disso, contraia ativamente os músculos da caixa torácica na parte inferior do corpo.

  1. B) Pratique a Postura Restauradora da Cobra (Bhujangasana-38)  com uma almofada apoiando o peito. Abra totalmente a frente da cavidade torácica, enquanto contrai todos os músculos na parte de trás da caixa torácica. 
  2. C) Pratique a postura do Coelho (Shashangasana – 53) abrindo totalmente as costas do corpo e o espaço entre as omoplatas, enquanto contrai totalmente a caixa torácica na frente do corpo.

  1. Otimiza o funcionamento dos sistemas digestivo, eliminatório, urinário e reprodutivo

Āsana proporciona uma massagem direta nas zonas abdominal e pélvica, promovendo a circulação e libertando as constrições musculares e psicoemocionais do abdômen e da pélvis. 

Exercício: A). Pratique Bhunaman Vajrasana para sentir os efeitos em todos os órgãos da região pélvica. Relaxe em savasana e permita que a área pélvica receba um novo suprimento de sangue.

  1. B) Pratique Torção Deitada sobre o Abdômen (Jathara Parivartanasana–34) para sentir a massagem nas áreas abdominal e pélvica.
  2. C) Pratique a postura da Ponte (Setubandhasana-42) apoiada com um bloco para sentir a liberação de tensão e melhorar a circulação na pelve e no abdômen, seguida pela postura do Joelho ao Peito (Apanasana-19).

 

  1. Otimiza o funcionamento dos sistemas linfático e imunológico 

A linfa transporta uma variedade de anticorpos e glóbulos brancos especializados projetados para combater doenças, fluindo através dos gânglios linfáticos que filtram bactérias, corpos estranhos e tecidos mortos. Seu funcionamento ideal é, portanto, essencial para um sistema imunológico saudável. 

O sistema linfático depende da gravidade, bem como da contração dos músculos adjacentes para espremer o fluido através de seus vasos. Muitos āsanas espremem e esticam os tecidos ao redor dos aglomerados de linfonodos no pescoço, axilas e virilhas para promover um sistema linfático saudável e aumentar a imunidade.

A contração e liberação da musculatura das pernas apoia o movimento da linfa e a contração e massagem interna da região abdominal também é importante. Além disso, as inversões auxiliam nesse processo de retorno da linfa aos rins, onde as toxinas são filtradas pela urina. O funcionamento do sistema imunológico também é otimizado pelo equilíbrio aprimorado no sistema nervoso autônomo cultivado pelo Yoga como um todo.

Exercício: A. Pratique a Face de Vaca (Gomukhasana – 23), seguida pela variação da Face de Vaca com os braços cruzados na frente do corpo, curvatura lateral da Face da Vaca, torção da Face da Vaca, inclinação da Face da Vaca para a frente.

  1. Pratique Animal em Relaxamento (Shaitilyasana-25a) com movimentos de golfinho. Em seguida, segure a postura com a respiração Kapalabhati.
  2. Meia Postura da Vela (Sarvangasana-71) com as pernas em Águia (Garudasana-63)
  3. Ângulo Lateral em Rotação (Parivritta Parshvakonasana-8)
  4. Herói Reclinado (Supta Virsana – 45)

 

  1. Otimiza o funcionamento do sistema endócrino

Os āsanas massageiam diretamente os locais dos órgãos endócrinos, liberando a tensão muscular dessas áreas e otimizando a circulação. O funcionamento do sistema endócrino também é otimizado pelo equilíbrio no sistema nervoso autônomo, que é otimizado pela prática de āsana.

Exercício A) Pratique a postura do Coelho (Shashangasana – 53) para sentir os efeitos nas glândulas pineal, pituitária, tireóide, adrenal e pancreática.

  1. B) Pratique a postura do Peixe (Matsyasana – 46) para estimular as glândulas com o tronco na direção inversa.
  2. C) Pratique o Meia Roda em Rotação (Ardha Mandalasana – 50b) ou o Triângulo em Rotação (Parivritta Trikonasana – 9)  para sentir a massagem de todo o sistema endócrino.

  1. Otimiza a saúde do cérebro e do sistema nervoso central 

Através do aumento da consciência corporal, circulação ideal e redução da tensão muscular e psicoemocional, os āsanas apoiam a saúde do cérebro e do sistema nervoso. As inversões auxiliam na circulação para o cérebro, bem como o funcionamento dos barorreceptores, os mecanismos que controlam o fluxo de sangue e nutrientes para o cérebro. Os movimentos alternados da coluna suportam o movimento do fluido espinal cerebral dentro da medula espinhal. 

A propriocepção exigida em todas as posturas mantém o funcionamento do sistema nervoso periférico que envia e recebe mensagens de todo o corpo, principalmente das extremidades.

Exercício A): Pratique a Flexão para a Frente  em pé com as pernas abertas (Gesto do Yoga – Yoga mudrá – 54c)  e sinta a circulação aumentada no rosto e no cérebro e o efeito regulador dos barorreceptores.

Exercício B) Pratique a Meia Lua em Equilíbrio (Tulatta Ardha Chandrasana – 64) e sinta o fluxo ideal de mensagens de e para o cérebro e a medula espinhal para todas as áreas do corpo, especialmente as extremidades. 

Exercício C) Pratique Gato/Vaca (Marjariasana – 11), Gato Lateral e Torção da Mesa (Sandharasana 11) em sincronia com sua respiração enquanto visualiza o fluido espinhal cerebral lubrificando toda a medula espinhal e o cérebro.

 

  1. Otimiza o funcionamento dos sentidos 

Os āsanas liberam a tensão muscular dos ombros, rosto, pescoço e mandíbula, otimizando o funcionamento ideal dos sentidos.

Exercício A: Pratique Yoga Mudrá (54) com o topo da cabeça no chão para sentir a circulação aprimorada para os sentidos.

B: Pratique a postura do Leão para liberar a tensão do rosto e da mandíbula.
C: Pratique aquecimento do pescoço para liberar a tensão do pescoço.
D: Pratique exercícios para os olhos para liberar a tensão e melhorar a circulação.

 

  1. Melhora e mantém o equilíbrio 

Asanas, especialmente as posturas de equilíbrio, otimizam o equilíbrio saudável através da ativação dos receptores de equilíbrio nos pés com uma variedade de posturas de sustentação de peso em vários planos de movimento. Isso é especialmente importante para idosos que podem sofrer lesões graves e até fatais devido a quedas.

Exercício A) Pratique a postura da Cegonha (Uttanasana) com suas variações de rotação interna e externa.

B: Pratique a postura modificada do Herói III ( Virabhadrasana III – 65) com as mãos em posição de oração.
C: Pratique a pose de Equilíbrio da Meia-Lua (Tulatta Ardha Chandrasana – 64) modificada com o braço apoiado ao lado do corpo, conforme necessário.

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  1. Otimiza o funcionamento do Sistema Nervoso Autônomo, melhorando a capacidade de lidar com o estresse de forma eficaz

O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) tem duas ramificações. O ramo parassimpático é responsável pelo relaxamento e regeneração dos principais órgãos e sistemas do corpo. O ramo simpático é responsável por liberar a energia necessária para todas as atividades. O equilíbrio desses dois é essencial para a saúde de todos os sistemas do corpo.

A resposta ao estresse é mediada pelo sistema nervoso autônomo juntamente com o sistema endócrino. Juntos, eles produzem a energia necessária para a vida diária com energia extra fornecida em caso de emergência. Esse equilíbrio nos permite relaxar e restaurar completamente quando a energia não é necessária. 

Um componente principal do SNA é o nervo vago, o nervo mais longo do corpo, cujas principais conexões com a medula espinhal estão no pescoço e no trato digestivo. O nervo vago provoca a resposta de relaxamento em todos os principais sistemas do corpo, incluindo circulatório, respiratório e digestivo. É o principal canal de comunicação entre o sistema nervoso entérico no abdômen e o cérebro. Inibe os efeitos da resposta ao estresse ativada pelo ramo simpático e otimiza a saúde do sistema imunológico.

Os Āsanas regulam o SNA e, subsequentemente, a resposta ao estresse de muitas maneiras importantes, incluindo:

  • Os Āsanas massageiam o nervo vago diretamente, especialmente na área do pescoço e do sacro, aumentando o tônus vagal.
  • Os Āsanas massageiam e aumentam a circulação nos órgãos que medeiam a resposta ao estresse, incluindo as glândulas endócrinas, especialmente a tireoide e as supra-renais.
  • Os Āsanas liberam a tensão da musculatura em todas as áreas do corpo, especialmente no pescoço, ombros e braços, áreas que são especialmente ativas na resposta de luta ou fuga, desativando essa resposta.
  • Os Āsanas cultivam resistência ao estresse, a capacidade de manter a postura na vida diária, indo além da resistência psicoemocional ao manter as posturas de Yoga.
  • Āsanas ensinam a capacidade de passar da tensão para o relaxamento rápida e voluntariamente.
  • Os Āsanas liberam a tensão da face e da mandíbula, especialmente da articulação temporomandibular (ATM), o que auxilia na redução da resposta ao estresse.
  • Os Āsanas liberam a tensão psicoemocional do peito e da pelve, onde a tensão psicoemocional que sustenta a resposta ao estresse é mantida.

Exercício A) Pratique a postura da Montanha (Tadasana – 1) por um longo período, movendo-se suavemente além de seus limites para desenvolver resistência ao estresse.

B) Pratique Cachorro olhando para baixo (Adho Mukha Svanasana – 14) com uma perna no ar para Pombo  (Kapotasana -25) e depois descanse na postura da Criança (Garbhasana 52), sentindo o aumento do tônus vagal.
C) Pratique a postura da Ponte (Setubandhasana – 42) apoiada com um bloco sob a pelve, concentrando-se na liberação da tensão psicoemocional do peito e da área pélvica.
D) Pratique a Flexão da Borboleta (Baddha Konasana – 22), usando cada expiração para se aprofundar na postura, relaxando a tensão física e psicoemocional dos quadris e da pelve.

E) Pratique a postura do Leão para liberar a tensão da mandíbula.

F) Pratique Face de Vaca (Gomukhasana – 23) com variações para liberar a tensão dos ombros, braços, quadris e pernas.

G) Pratique uma torção sentada de um lado para o outro, permitindo que os olhos se movam na direção oposta da cabeça com foco no nervo vago craniano.

H) Faça movimentos somáticos de liberação do trapézio com foco no nervo vago craniano. I) Pratique a pose do Bebê Feliz com Asvini mudrá com foco no nervo vago pélvico.

J) Pratique Agni Sara Kriya para liberar o diafragma com foco no nervo vago pélvico.

K) Pratique a postura do Peixe (Matsyasana – 46) seguida da postura do Coelho (Shashangasana – 53), concluindo com a postura da Criança  (Garbhasana 52) com um abraço para liberar a tensão das glândulas supra-renais e da tireoide.

L) Pratique o Sábio Marichi em Torção (Parivritti Marichyasana – 33), entrando mais profundamente na torção a cada inspiração, sentindo a liberação da tensão, especialmente nos quadris e ombros.

Por Joseph Le Page
Professor e cofundador do método Yoga Integrativa

Namastê!