Krishna, o Yogaterapeuta
A VISÃO DA YOGATERAPIA NO BHAGAVAD GITA* – PARTE 1
No Bhagavad Gita, Krishna e Arjuna desempenham papéis bastante distintos. Analisando de um ponto de vista da Yogaterapia, Krishna é o Yogaterapeuta e Arjuna o paciente que sofre de depressão.
O tema das emoções surge no início do Bhagavad Gita, no segundo capítulo, onde Arjuna passa quase que um capítulo inteiro expondo o seu sofrimento extremo. Basicamente, Arjuna estava bastante deprimido, e Krishna passa bastante tempo como ele nessa primeira fase, escutando, deixando que Arjuna desabafe e fale tudo que tem para falar. Mas chega um certo ponto em que Krishna precisa dizer à Arjuna o que ele precisa ouvir e é quando percebemos o papel de Yogaterapeuta de Krishna no Bhagavad Gita.
Podemos notar que Krishna segue o processo de Arjuna e respeita o seu ritmo de aprendizado. Ele é capaz de ser um amigo para Arjuna e ainda manter o seu papel como professor e terapeuta.
Krishna diz para Arjuna: “O sábio não fica triste nem pelos mortos nem pelos vivos”. Também é dito no Gita que nunca você deve reprimir as emoções, quando está sentindo alguma coisa, que deve expressar as emoções de forma adequada. Krishna fala que quanto aos gunas, você não pode regulá-los, é necessário senti-los. Assim sendo, Krishna não diz à Arjuna que ele não deveria ficar triste, ele diz que há um Ser maior iluminado para o qual a tristeza não existe.
Podemos notar que Krishna usa ferramentas de toda a tradição do Yoga. Ele tem uma vasta compreensão e traz para os seus ensinamentos aspectos do Raja Yoga, Bhakti Yoga, Jnana Yoga, Karma Yoga e Hatha Yoga. E ainda assim, a Yogaterapia de Krishna é flexível; Ele muda de uma modalidade para outra, como exige a situação de Arjuna.
Mesmo que Krishna seja Deus, Ele não cura Arjuna, mesmo quando ele assume sua forma Divina. Krishna está simplesmente despertando um processo de cura que já está presente em Arjuna.
Arjuna, então coloca-se na posição de aluno, de discípulo na busca deste Ser. É um tema complicado, complexo, e Krishna leva dezoito capítulos para explicar exatamente o que Ajurna precisa escutar e conhecer. Em essência, essa é diferença entre Psicoterapia e Yoga: O Yoga acredita num Ser que supremo, o Ser que existe em tudo o que existe, um Ser que não nasce e não morre.
Durante a jornada de cura de Arjuna, Krishna procura uma mudança de perspectiva em seu aluno que resultará em bem-estar nos níveis físico, psicológico e espiritual. Ele comunica a Arjuna que o processo de cura pelo qual ele está passando não é um processo isolado, mas uma parte integral da jornada de vida que envolve todos os aspectos de seu ser.
O caminho do Yoga nos conduz ao reconhecimento e estabelecimento neste Ser real. Tudo o que acontece com as nossas emoções serve para nosso aprendizado e amadurecimento e não para que nos identifiquemos com elas.
Interpretação de versos do Gita, segundo a visão da Yogaterapia
2.11 – Ashocyan anvashochastvam
prajnavadamshca bhashase
gatasun agatasumsca
nanushocanti panditah
Arjuna está sofrendo de depressão. Ele vê sua própria vida e o mundo como triste, sem esperança e sem sentido. Em um nível intelectual, Arjuna entende o caminho espiritual, mas ele é incapaz de aplicá-lo em sua própria vida. Krishna inicia a sua sessão de Yogaterapia com Arjuna, deixando-o saber que é necessária uma mudança de perspectiva; e através dessa mudança de perspectiva, ele obterá o autoconhecimento para ver que o problema e a solução estão dentro ele.
2.40 – Nehabhikramana shosti
pratyavayo na vidyate
svalpamapyasya dharmasya
trayate mahato bhayat
A Yogaterapia engloba toda o ser e toda a jornada da vida, ao longo da qual adquirimos sabedoria do corpo, mente e espírito. Arjuna está preocupado com o pouco conhecimento que tem, mas Krishna lembra que, na prática do Yoga, nenhum esforço é desperdiçado. Não há como voltar atrás, e um pouco de autoconhecimento pode nos proteger de grandes perigos. Aqui Krishna nos lembra que não é a iluminação que nos cura, mas a jornada de cura que é essencial. E ao longo desta jornada, devemos abrir essa porta para a cura que é mais apropriada.
2.48 – Yogasthah kuru Karmani
sangam tyaktva dhanamjaya
siddhyosiddhyoh samo bhutva
samatvam yoga ucyate
Ao longo da jornada de Yogaterapia, Arjuna aprenderá a acreditar em si mesmo e em seu próprio poder de cura. No início da jornada ele ainda projeta em Krishna, o seu terapeuta, como aquele que vai curá-lo. À medida que ele se torna mais forte, Arjuna terá que aprender a confiar em seus próprios recursos internos e valorizar-se a si mesmo. Ao se aproximar de seu verdadeiro Eu, Arjuna finalmente encontrará equanimidade. Krishna aconselha Arjuna a permanecer firme no Yoga e fazer seu trabalho de cura, não se preocupando com o resultado, mas apenas permanecendo com o processo e mantendo e desenvolvendo a equanimidade mental que Krishna define como a essência do Yoga durante toda a jornada.
2.51 – Karmajam buddhiyukta hi
phalam tyaktva manishinah
janmabandha vinirmuktah
padam gacchanty anamayam
Precisamos lembrar que Arjuna procurou Krishna para resolver um problema relacionado ao seu sofrimento, não por causa de algum interesse acadêmico na filosofia do Yoga e no sânscrito. Arjuna está sofrendo de depressão e algumas de suas ações contempladas envolvem inclusive o suicídio. Ele está buscando uma confirmação de que há realmente uma saída. Krishna assegura a Arjuna que existe um lugar livre de dor e explica da seguinte maneira.
“Conectados à sua sabedoria superior, tendo renunciado aos frutos da ação, os sábios estão livres da prsião do renascimento e encontram aquele lugar que é livre da dor e da doença“.
Note que a palavra anamayam não é apenas uma referência à liberdade espiritual, mas se refere diretamente a um estado livre de doenças e pleno de saúde física.
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