Unificando as Definições de Yoga

O significado do Yoga não cabe em uma única definição, mas sim em várias definições interrelacionadas, que se unem para formar uma visão do Yoga muito além de palavras e conceitos. Juntas, essas definições formam uma mandala, um círculo de conhecimento, que inclui e transcende os vários tons de significados do Yoga, e que nos guia à sua essência: a verdade de nosso próprio Ser que é simultaneamente a verdade de toda a Criação, a qual palavras podem até explicar, mas jamais conseguirão expressar completamente.

A raiz sânscrita da palavra Yoga é yuj, que significa “unir-se”. Existem muitos cognatos para a palavra Yoga nas línguas indo-européias, como “yoke”, em inglês, ou “conjugar”, no português, que também significam “unir”. O conceito de Yoga como união engloba uma ampla gama de significados, cada um dos quais contribui para o entendimento do Yoga como um todo. O significado final de Yoga como união é a junção da alma individual, Atman, com o Eu Universal, Brahman, que é a compreensão de que o objetivo primordial da jornada de vida de cada indivíduo é a união com o seu Ser Real, que é ao mesmo tempo o Ser Universal e a Fonte da Criação.

Começamos essa jornada de união no nível mais palpável: a união com o nosso próprio corpo. Embora nos relacionemos com o corpo como “eu” e “meu”, nosso relacionamento muitas vezes carece de profundidade ou intimidade real.

De fato, nosso corpo é frequentemente tratado como um objeto ligeiramente estranho, usado pela personalidade cotidiana em sua busca por sobrevivência, reprodução e hierarquia social. Através do Yoga em geral, e através das técnicas do Hatha Yoga em particular, nos unimos completamente ao nosso corpo, otimizando o seu funcionamento e transformando-o em um veículo apropriado para a jornada de união com o nosso Ser Real.

Essa união com o corpo serve como base para nos unirmos à nossa respiração, através do pranayama, a ciência da respiração yoguica. À medida que desenvolvemos o domínio sobre a nossa respiração, equilibramos o sistema nervoso, reduzindo estresse e cultivando equanimidade, o que serve como um alicerce para a nossa jornada de união com o nosso Ser Real.

A união com a respiração naturalmente desperta a consciência para o nosso corpo de energia sutil, uma dimensão expansiva do nosso ser que transcende completamente nossos pensamentos, sentimentos e crenças cotidianas, afrouxando, assim, a nossa rígida identificação com a personalidade.

A união com a nossa respiração e com o nosso corpo de energia sutil cultiva uma expansividade em nosso ser psicoemocional, que nos permite olhar para ele com mais abertura e objetividade. Por fim, passamos a enxergar a mente cotidiana, manas, não mais como a nossa verdadeira identidade, mas como um lugar onde os padrões limitantes de pensamentos, sentimentos e crenças habitam.

O primeiro passo para a liberação desses condicionamentos é nos unirmos a eles profundamente de modo a tomar consciência de como eles causam sofrimento e limitação. Através de uma maior intimidade e consciência do nosso ser psicoemocional, vemos que a personalidade é, na verdade, um composto de camadas de condicionamentos na forma de instintos evolutivos de sobrevivência e influências da cultura, sociedade e família, todos distintos do nosso Ser Real. 

Esse gradual reconhecimento da natureza limitante dos condicionamentos da personalidade naturalmente desperta a nossa mente superior, buddhi, que nos permite testemunhar pensamentos, sentimentos e crenças limitantes sem reprimir, reagir inconscientemente ou se identificar com eles como “eu” e “meu”.

À medida que nos unimos mais profundamente com a mente superior, o testemunho torna-se espontâneo e natural, e gradualmente vamos liberando as nossas tendências de negatividade e hostilidade, e os sentimentos de inadequação ou incapacidade. Essa união com a nossa mente superior através do testemunho consciente é especialmente importante nos momentos em que experienciamos perda, dor e sofrimento, uma vez que, por trás de toda experiência de limitação, sempre existe a possibilidade de enxergar uma crença limitante que é a causa da dor psicoemocional. 

Através da consciência e liberação de pensamentos, sentimentos e crenças limitantes, um espaço é criado para a compreensão do significado de Yoga como união no seu senso mais completo de união com o Ser Real. Esta união não é algo que criamos ou conquistamos, mas simplesmente é o enxergar claramente todas as crenças limitantes, confusões, falsas percepções e condicionamentos. Este Ser Real é a pura consciência, inerentemente pleno, o Ser Universal no coração de toda a criação, cuja verdadeira essência é união.

A natureza do Ser Universal e os meios para atingir essa união são esclarecidos por outras definições do Yoga, encontradas no Bhagavad Gita. A primeira destas está no Bhagavad Gita 2.50:

 

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