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A História do Yoga – parte V. Yoga Sutras de Patanjali – de 2.000 anos atrás – Raja Yoga

Codifica a essência das tradições anteriores

O texto filosófico Yoga Sutras de Patanjali, datado de aproximadamente dois mil anos, codifica os princípios essenciais do Yoga em 196 aforismos, chamados sutras. Os Yoga Sutras definem a visão do Yoga, suas práticas e técnicas, bem como as experiências que surgem ao longo da jornada que culmina em uma experiência de liberdade espiritual, chamada kaivalya.

Os oito níveis ou angas do Yoga, chamados de Ashtanga Yoga, são muitas vezes considerados o coração dos Yoga Sutras, formando a base para o estudo e a prática do Yoga. Os oito angas traçam o caminho completo da transformação espiritual, começando com os valores éticos; seguido pela integração do corpo e da respiração; preparando-nos para estados progressivamente mais profundos de meditação, levando a uma experiência de absorção completa, samadhi.

Os Yoga Sutras de Patanjali representam uma congregação dos pontos de filosofia e práticas das tradições anteriores mais importantes. Do Samkhya, recebe a noção purusha e prakriti; com prakriti feito dos cinco elementos. De Vedanta, recebe o conceito de karma, de Ishvara e da importância do OM. Do Budismo, recebe a importância de desapegar da vida, cuja natureza é de sofrimento. Também recebe a importância da disciplina e de meditação.

A filosofia dos Yoga Sutras se encontra de forma concisa nos quatro primeiro sutras:

– Sutra I.I Atha Yoga Anusásanam – Agora o ensinamento do yoga.

O ensinamento começa quando chegamos a um trevo na vida. Antes sempre escolhíamos o caminho de felicidade através dos objetos ao nosso redor.   Através de várias experiências de insatisfação, decidimos optar por outro caminho, o caminho de autotransformação que é o caminho de Yoga. Nesse caminho de Yoga, eu reconheço que eu sou o problema e também a solução.

Desde o momento em que escolho o caminho de Yoga aprendo a despertar a experiência da completude dentro de mim, a felicidade independe dos fatores externos. Desde o momento em que escolho o caminho do Yoga eu uso as experiências para aprender sobre eu mesmo através de observar as minhas reações e de agir com inteligência ao invés de reagir inconscientemente.

Eu escolho o caminho de autotransformação, o caminho do Yoga.

– Sutra I.II Yogah Chitta Vritti Nirodhah – Yoga é a cessação dos movimentos na consciência. (tradução literal)

Yoga é a dissolução da identificação com padrões de pensamentos dentro da consciência. (intenção da tradução). Antes de escolhermos o caminho do Yoga nos identificávamos com os pensamentos como, eu e meu. Também atuamos no mundo como se a personalidade, a fonte dos pensamentos pudesse oferecer felicidade e paz. O processo de pensar, e especialmente de projetar a mente no passado e para o futuro é um dom do Ser Humano. O problema não existe nos pensamentos, mas na confusão de enxergar ou de confundir o Ser real com a personalidade.

A minha mente serve como veículo para a minha própria libertação.

– Sutra I.III Tada Drastuh Svarupe Avasthanam – Então o testemunho se estabelece, na sua própria natureza. (tradução literal).

Este sutra define o objetivo do yoga, o estado que nós experimentamos quando conseguimos resolver os vrittis.  A experiência da nossa própria natureza como plenitude e paz é intrínseca. Isso que dizer que não é um estado criado por técnicas de yoga e muito menos por buscar prazer e sucesso no mundo.  Este estado é composto de Sat-Chit-Ananda.

Sat quer dizer verdade e refere-se a uma experiência do ser real que é inconfundível. Autoconhecimento é acompanhado por uma experiência de entendimento da natureza sutil de tudo.

Chit quer dizer consciência e refere-se à qualidade de infinitude, em relação ao tempo/espaço e no nível material à nossa habilidade de alcançar nosso potencial.

Ananda refere-se à um estado de bem-aventurança e completude em todos os momentos.

Eu descanso na minha própria natureza de luz liberdade e clareza

–  Sutra I.IV Vritti Sarupyam Itaratra – Nos identificamos com os movimentos da mente, nos outros momentos. (Quando não conseguimos resolver os vrittis através do yoga).

Caso contrário, continuamos andando em círculos (samsara), com confusão, conflito e tristeza.  No momento em que você não está no estado de yoga, você se identifica com os acontecimentos que afligem sua personalidade como se eles tivessem o poder de tocar seu Ser real.  A ideia principal dos Yogas Sutras é que a personalidade poderia ser na melhor das hipóteses um veículo adequado para realizar o Ser real, mas somente depois de purificá-lo.

         As experiências da minha vida sempre me levam na direção do Yoga.

Exercício: Reflita nesses quatro sutras em relação à sua própria vida. Qual foi o momento decisivo para você embarcar na jornada de Yoga?

Tradições que seguem, incluindo Tantra e Hatha Yoga 

Patanjali também oferece um vislumbre das tradições que vao aparecer depois da época dele que completam a tradição de Yoga. O primeiro é o Tantra. O capítulo três dos Yoga Sutras apresenta uma anatomia do corpo sutil incluindo os chakras, nadis e prana vayus que fazem parte da tradição de Tantra. Os sutras que apresentam asana refere somente a posturas sentadas de meditação. Mesmo assim, representam uma filosofia completa de Asana no contexto do caminho espiritual.  A apresentação de pranayama contém toda informação fundamental para a pratica incluindo os objetivos.

Para conhecer a história do Yoga em seus textos anteriores, acesse:

 

Por Joseph Le Page

Autor do Livro Yoga Sutras em Prática

Diretor do Centro de Yoga Montanha Encantada

Fundador da Yoga Integrativa

Filosofia Samkhya para Crianças de todas as Idades

Era uma vez um planeta chamado Purusha. Você poderia dizer que Purusha era um lugar perfeito para se viver; todos estavam felizes e havia uma sensação de que não havia tempo ou limites. De fato, o povo de Purusha era completo em todos os sentidos. O único problema era que em todo aquele vasto reino não havia um espelho. Sem um espelho, os Purushianos não podiam ver a si mesmos, então, embora fossem perfeitos, não tinham como reconhecer ou tomar consciência de sua perfeição inerente. Essa ausência de um espelho para ver o próprio reflexo era a fonte do desejo de ir em busca de um caminho de autoconhecimento.

Um dia, os Purushianos ouviram falar de um planeta distante chamado Prakṛti. Lá era  possível conhecer a si mesmo em um mundo de dualidade, com o mundo lá fora e um “eu” separado para experimentá-lo. Este mundo de dualidade podia ser experimentado através do som, do tato, da visão, do paladar e do olfato, por isso era de fato um espelho para todos os cinco sentidos. Viajando para Prakṛti, os Purushianos seriam capazes de ter toda a paz e alegria ilimitadas de Purusha e também estar conscientes disso; uma jornada de exploração e aprendizado, para retornar a Purusha tão inteiros quanto conscientes de sua totalidade.

Para fazer a viagem ao planeta Prakṛti, os Purushianos precisavam de naves espaciais que pudessem suportar a atmosfera quando chegassem. Então construíram suas naves com os mesmos cinco elementos que compõem o planeta Prakṛti, para onde iriam: terra, água, fogo, ar e espaço. Cada nave era feita à mão e tinha características individuais, mas no geral, elas se encaixavam em três modelos básicos: as naves kapha eram densas e sólidas, as naves pitta eram rápidas e impetuosas, com motores potentes, e os modelos vata eram leves e rápidos.

As naves são chamadas de Corpos. No centro de cada nave está o principal passageiro, chamado “Espírito”, que carrega a essência da liberdade e consciência ilimitadas, a marca registrada do planeta Purusha. Cada nave também tem um piloto chamado “Mente”. Logo, Corpo, Mente e Espírito devem trabalhar juntos para fazer a jornada, com o entendimento de que tanto o corpo quanto a mente são, em última análise, veículos para a jornada da Alma em direção ao Autoconhecimento.

No início de sua jornada, os Purushianos instalaram um poderoso transmissor no espaço para que estivessem sempre em contato com o planeta Purusha. Esta ferramenta de transmissão para Purusha foi chamada Mahat, que significa “o grande” para que a essência da totalidade e do ilimitado que são as marcas registradas do planeta Purusha nunca fossem perdidas. Cada espaçonave também tinha um computador de bordo ultra-inteligente, chamado Buddhi, para garantir que os sinais vindos de Purusha fossem recebidos e transmitidos ao piloto para guiar a nave ao planeta Prakriti e retornar ao planeta Purusha. 

Cada nave tem sua própria identidade ou senso de individualidade, pois cada uma é uma combinação única dos cinco elementos, de modo que a jornada e o destino de cada um são únicos, tanto na jornada para Prakriti quanto no caminho de retorno a Purusha. Essa identidade única e individual para cada viajante é chamada de Ahamakara, que pode ser traduzida livremente como “quero fazer do meu jeito!”

Embora cada nave tenha uma jornada única, no geral, eles se enquadram em três categorias básicas. As naves kapha são pesadas e lentas, mas fazem um progresso constante. A embarcação pitta se destaca em velocidade e desempenho, mas quando as coisas dão errado, o piloto perde um certo tempo procurando a quem culpar. As naves vata têm a jornada mais emocionante, explorando diferentes universos e planetas, mas muitas veze, o condutor acaba esquecendo onde deixou as chaves da espaçonave… 

No final, todas as naves chegaram ao mesmo tempo ao destino. À medida que se aproximam do planeta Prakṛti, os pilotos preparam os dispositivos sensores necessários para a exploração. Um conjunto de dispositivos sensoriais são os jnanendriyas, ou instrumentos de conhecimento, incluindo a capacidade de cheirar, saborear, ver, tocar e ouvir. Os outros são instrumentos de ação chamados karmendriyas, como a capacidade de falar, tocar, mover, agarrar, eliminar resíduos e até mesmo procriar pequenas naves Purushianas, pois a jornada completa pode levar mais de uma geração.

Enquanto as naves se aproximam do planeta Prakṛti, elas encontram uma série de tempestades inesperadas que fazem parte de sua atmosfera. Há tempestades de tremenda energia e turbulência, chamadas rajas. Há também marasmo, chamados tamas, em que nada se move. Esses ciclos de rajas e tamas são intercalados com momentos de equilíbrio perfeito, chamados sattva, quando a jornada flui suavemente e sem esforço. 

Todas as naves conseguem chegar ao planeta Prakṛti, mas a jornada é difícil. Muitos dos pilotos chegam traumatizados e sofrendo de amnésia crônica recorrente, na qual esquecem sua missão original de exploração e autoconhecimento para retornar ao planeta Purusha. Eles passam a acreditar que são suas naves compostas pelos cinco elementos e usam seus sentidos e órgãos de ação para buscar o prazer e evitar a dor, acreditando que prakriti e suas experiências são sua única realidade, enquanto o passageiro e o motivo da viagem, o  Espírito, está completamente esquecido, ou é apenas uma memória distante. Com sua missão original esquecida, seu tempo é gasto no shopping procurando itens para embelezar a nave ou nas férias tirando selfies.

Esse padrão de dirigir suas naves em círculos para se manterem ocupados, sem nunca encontrar o verdadeiro propósito ou significado da vida, é chamado de Samsara, que significa literalmente “andar em círculos”. Mas não importa o quanto eles tentem se manter ocupados para evitar olhar para suas vidas mais profundamente, há uma sutil voz interior vindo do Espírito, dizendo-lhes que deve haver algum propósito e significado mais profundos para viver. 

Aqueles que ouvem esta mensagem mais claramente são os Rishis, ou videntes, e Gurus, aqueles que podem levar as pessoas dos padrões circulares do planeta Prakṛti de volta à lembrança de quem eles realmente são como cidadãos de Purusha. Esses pioneiros também são chamados de Yogis, o que significa “unir” ou, neste caso, “reunir-se com quem somos como Espírito”. 

Aqueles que decidem fazer a viagem de volta para Purusha precisam primeiramente reparar suas naves dos danos causados ​​pelo estresse crônico e sobrecarga sensorial causadas em um planeta sob o domínio e a constante variação dos três gunas (rajas, tamas e sattva). 

Essas estações de reparo usam uma ciência chamada Ayurveda para reequilibrar os cinco elementos dos quais as naves são feitas. Às vezes, todos os sistemas das naves devem ser completamente limpos em um processo chamado Panchakarma. Uma vez em equilíbrio, as naves precisam de um caminho para sua jornada de volta, e um dos mais claros deles é do Sábio Patanjali: Um manual sobre o retorno ao Planeta Purusha em 8 passos, chamado Ashtanga Yoga

Os dois primeiros passos, chamados yama e niyama, são guias de conduta e comportamento na jornada para casa.  O terceiro passo, asana, é um guia para manter a nave estável e confortável para garantir sua segurança ao longo do caminho. O quarto passo, pranayama, envolve ter energia adequada para a jornada e usar essa energia

com sabedoria. O quinto passo, pratyahara, é tirar a atenção do piloto de todas as distrações do planeta Prakṛti para que ele possa se concentrar em sua jornada de retorno. O sexto passo, dharana, é estabelecer um curso fixo de um ponto e permanecer nesse curso durante todo o caminho para casa. O sétimo passo, dhyana ou meditação, é a própria jornada, com todos os sistemas da nave funcionando de forma espontânea e sem esforço, guiados por Buddhi em contato com Mahat para manter uma comunicação contínua com a energia de paz e alegria do planeta Purusha. Através da metodologia do Asthanga Yoga, muitas das naves podem voltar para casa e, uma vez lá, reassumir sua verdadeira identidade como cidadãos do planeta Purusha e retornar a um estado de paz, integridade e harmonia chamado samadhi, o oitavo e final passo do manual. 

Esses exploradores, no entanto, não são os mesmos de quando partiram. Agora eles têm um espelho de consciência. Eles conhecem o planeta Prakṛti e o mundo da dualidade e agora, voltando para casa no planeta Purusha, eles estão completos e inteiros e sabem que é assim. O aprendizado final e mais profundo desta jornada é que o planeta Purusha e o planeta Prakṛti são, na verdade, um. O mundo da matéria e o mundo do espírito não são opostos um ao outro e nossa própria versão do planeta Prakṛti, chamada Terra, está nos chamando para tratá-la com amor e reverência para que Purusha e Prakṛti possam viver juntos em paz e alegria, felizes para sempre.

Por Joseph Le Page
Tradução Glaucia Rosa Damazio