Krishna, o Yogaterapeuta

A VISÃO DA YOGATERAPIA NO BHAGAVAD GITA* – PARTE 1

No Bhagavad Gita, Krishna e Arjuna desempenham papéis bastante distintos. Analisando de um ponto de vista da Yogaterapia, Krishna é o Yogaterapeuta e Arjuna o paciente que sofre de depressão.

O tema das emoções surge no início do Bhagavad Gita, no segundo capítulo, onde Arjuna passa quase que um capítulo inteiro expondo o seu sofrimento extremo. Basicamente, Arjuna estava bastante deprimido, e Krishna passa bastante tempo como ele nessa primeira fase, escutando, deixando que Arjuna desabafe e fale tudo que tem para falar. Mas chega um certo ponto em que Krishna precisa dizer à Arjuna o que ele precisa ouvir e é quando percebemos o papel de Yogaterapeuta de Krishna no Bhagavad Gita.

Podemos notar que Krishna segue o processo de Arjuna e respeita o seu ritmo de aprendizado. Ele é capaz de ser um amigo para Arjuna e ainda manter o seu papel como professor e terapeuta.

Krishna diz para Arjuna: “O sábio não fica triste nem pelos mortos nem pelos vivos”. Também é dito no Gita que nunca você deve reprimir as emoções, quando  está sentindo alguma coisa, que deve expressar as emoções de forma adequada. Krishna fala que quanto aos gunas, você não pode regulá-los, é necessário senti-los. Assim sendo, Krishna não diz à Arjuna que ele não deveria ficar triste, ele diz que há um Ser maior iluminado para o qual a tristeza não existe.

Podemos notar que Krishna usa ferramentas de toda a tradição do Yoga. Ele tem uma vasta compreensão e traz para os seus ensinamentos aspectos do Raja Yoga, Bhakti Yoga, Jnana Yoga, Karma Yoga e Hatha Yoga. E ainda assim, a Yogaterapia de Krishna é flexível; Ele muda de uma modalidade para outra, como exige a situação de Arjuna.

Mesmo que Krishna seja Deus, Ele não cura Arjuna, mesmo quando ele assume sua forma Divina. Krishna está simplesmente despertando um processo de cura que já está presente em Arjuna.

Arjuna, então coloca-se na posição de aluno, de discípulo na busca deste Ser. É um tema complicado, complexo, e Krishna leva dezoito capítulos para explicar exatamente o que Ajurna precisa escutar e conhecer. Em essência, essa é diferença entre Psicoterapia e Yoga: O Yoga acredita num Ser que supremo, o Ser que existe em tudo o que existe, um Ser que não nasce e não morre.

Durante a jornada de cura de Arjuna, Krishna procura uma mudança de perspectiva em seu aluno que resultará em bem-estar nos níveis físico, psicológico e espiritual. Ele comunica a Arjuna que o processo de cura pelo qual ele está passando não é um processo isolado, mas uma parte integral da jornada de vida que envolve todos os aspectos de seu ser.

O caminho do Yoga nos conduz ao reconhecimento e estabelecimento neste Ser real. Tudo o que acontece com as nossas emoções serve para nosso aprendizado e amadurecimento e não para que nos identifiquemos com elas.

Interpretação de versos do Gita, segundo a visão da Yogaterapia

2.11 – Ashocyan anvashochastvam
prajnavadamshca bhashase
gatasun agatasumsca
nanushocanti panditah

Arjuna está sofrendo de depressão. Ele vê sua própria vida e o mundo como triste, sem esperança e sem sentido. Em um nível intelectual, Arjuna entende o caminho espiritual, mas ele é incapaz de aplicá-lo em sua própria vida. Krishna inicia a sua sessão de Yogaterapia com Arjuna, deixando-o saber que é necessária uma mudança de perspectiva; e através dessa mudança de perspectiva, ele obterá o autoconhecimento para ver que o problema e a solução estão dentro ele.

2.40 – Nehabhikramana shosti
pratyavayo na vidyate
svalpamapyasya dharmasya
trayate mahato bhayat

A Yogaterapia engloba toda o ser e toda a jornada da vida, ao longo da qual adquirimos sabedoria do corpo, mente e espírito. Arjuna está preocupado com o pouco conhecimento que tem, mas Krishna lembra que, na prática do Yoga, nenhum esforço é desperdiçado. Não há como voltar atrás, e um pouco de autoconhecimento pode nos proteger de grandes perigos. Aqui Krishna nos lembra que não é a iluminação que nos cura, mas a jornada de cura que é essencial. E ao longo desta jornada, devemos abrir essa porta para a cura que é mais apropriada.

2.48 – Yogasthah kuru Karmani
sangam tyaktva dhanamjaya
siddhyosiddhyoh samo bhutva
samatvam yoga ucyate

Ao longo da jornada de Yogaterapia, Arjuna aprenderá a acreditar em si mesmo e em seu próprio poder de cura. No início da jornada ele ainda projeta em Krishna, o seu terapeuta, como aquele que vai curá-lo. À medida que ele se torna mais forte, Arjuna terá que aprender a confiar em seus próprios recursos internos e valorizar-se a si mesmo. Ao se aproximar de seu verdadeiro Eu, Arjuna finalmente encontrará equanimidade. Krishna aconselha Arjuna a permanecer firme no Yoga e fazer seu trabalho de cura, não se preocupando com o resultado, mas apenas permanecendo com o processo e mantendo e desenvolvendo a equanimidade mental que Krishna define como a essência do Yoga durante toda a jornada.

2.51 – Karmajam buddhiyukta hi
phalam tyaktva manishinah
janmabandha vinirmuktah
padam gacchanty anamayam

Precisamos lembrar que Arjuna procurou Krishna para resolver um problema relacionado ao seu sofrimento, não por causa de algum interesse acadêmico na filosofia do Yoga e no sânscrito. Arjuna está sofrendo de depressão e algumas de suas ações contempladas envolvem inclusive o suicídio. Ele está buscando uma confirmação de que há realmente uma saída. Krishna assegura a Arjuna que existe um lugar livre de dor e explica da seguinte maneira.

Conectados à sua sabedoria superior, tendo renunciado aos frutos da ação, os sábios estão livres da prsião do renascimento e encontram aquele lugar que é livre da dor e da doença“.

Note que a palavra anamayam não é apenas uma referência à liberdade espiritual, mas se refere diretamente a um estado livre de doenças e pleno de saúde física.

A Conexão Mente-Corpo e a Cura

Sob esta perspectiva, percebemos que a consciência corporal não é apenas um acessório para a saúde, mas a própria base para o estabelecimento da saúde e da cura.

A unidade mente-corpo-espírito, como nós a conhecemos e a experimentamos no Yoga, é o resultado de influências específicas dentro de nossa cultura.

Entendendo a história e o desenvolvimento dessas influências, nós podemos compreender porque a integração do corpo-mente-espírito está no cerne das abordagens orientais com relação à cura e quase inexiste na nossa própria.

Raízes Históricas da Separação Mente-Corpo-Espírito na cultura Ocidental
  • INFLUÊNCIAS DA CULTURA GREGA

Muitas influências na nossa perspectiva de abordagem corpo-mente-espírito podem ser remontadas à civilização grega. Dentro da filosofia grega, o corpo físico era visto essencialmente como o templo da alma. Encontrava-se nesta tradição grega um sentido de integração corpo-mente- espírito como base para a saúde, que serviu de fundamento para o florescimento de escolas de cura mente-corpo. Isto é perfeitamente natural, já que a cultura grega se originou de um grupo cultural maior chamado Indo-Ariano, o qual incluía a cultura indiana.

Houve também intercâmbios entre a Índia e a Grécia, o que influenciou muitas escolas de filosofia grega. No segundo século, Plotinus descreveu o mundo como Luz Divina, onde tudo o que existe é Deus ou o Uno. O Mal em si mesmo não existe segundo Plotinus, mas é simplesmente a ausência desta Luz. Isto reflete a filosofia indiana predominante na época.

As raízes de nossa visão científica, racional do mundo e do corpo estavam também presentes na Grécia clássica, principalmente no racionalismo de Aristóteles. Aristóteles dividia o mundo natural em categorias ou áreas que podiam ser exploradas em detalhes, tendo ele sido considerado o pai da ciência e do academicismo. Esta divisão do mundo em componentes menores para estudo e entendimento lançou a base para o estudo científico do corpo como um objeto separado da mente e do espírito.

Um terceiro aspecto da cultura grega que iria afetar nosso conceito de corpo-mente-espírito é o Humanismo que dá enorme importância ao valor do indivíduo e à necessidade do desenvolvimento e aperfeiçoamento do corpo, mente e espírito.

  • INFLUÊNCIAS DA VISÃO DO VELHO TESTAMENTO

Uma outra cultura com valores próprios existiu na região do Mediterrâneo no mesmo período. Era a cultura semítica dos árabes e judeus. Sua abordagem da vida contrasta nitidamente com a civilização grega. Sua visão de vida reflete-se no Velho Testamento, onde a natureza do homem é vista como fundamentalmente maculada e penalizada pelo pecado original.
Esta visão do mundo é parcialmente resultante do meio em que viviam – uma área de recursos limitados e competição férrea, onde a vida era dominada pelo medo e pela ameaça das tribos invasoras. O Deus do Velho Testamento é um patriarca severo que exige obediência e julga o bem e o mal.
Esta perspectiva cultural do corpo está demonstrada na história de Adão e Eva que foram expulsos do Paraíso por terem comido o fruto da Árvore do Bem e do Mal, o que em geral é igualado à descoberta do prazer em seus corpos. Sob esta perspectiva, a mente deve ser controlada através da culpa e da vergonha, devido à sua tendência de se render aos desejos da carne. A salvação é conseguida através da graça de Deus, juntamente com rituais apropriados e comportamento social adequado. O clã era dominante e o indivíduo secundário.

Em resumo, o puritanismo, a confiança na fé e no tribalismo do Velho Testamento contrastam com as três bases importantes do conceito corpo-mente- espírito na cultura grega: holismo, racionalismo científico e humanismo.

  • INFLUÊNCIAS DA VISÃO DO NOVO TESTAMENTO

Jesus foi um reformador dentro da tradição do Velho Testamento. Parece provável que o pensamento grego e indiano influenciaram seu desenvolvimento. Sua mensagem de amor e compaixão contrasta com o julgamento severo do Velho Testamento, mas seu público e seus discípulos que apresentaram sua mensagem estavam tão condicionados pela visão do mundo do Velho Testamento que a mensagem de Jesus de amor e perdão foi obscurecida até certo ponto pela visão negativa do corpo e da mente do Velho Testamento.
Quando o Cristianismo se espalhou pelo Império Romano nos três primeiros séculos depois de Cristo, uma síntese de ambas as influências grega e romana foi, de fato, incorporada. O Novo Testamento foi escrito em grego e a cultura grega formou a base filosófica da cultura romana. Nestes primeiros séculos, o Cristianismo foi um movimento revolucionário que trouxe uma espiritualidade viva para culturas cujas religiões tinham se tornado amplamente instituições políticas e sociais. A história inicial do Cristianismo foi de perseguição e martírio.

  • INFLUÊNCIAS DO CRISTIANISMO COMO RELIGIÃO OFICIAL DO IMPÉRIO ROMANO

No tempo em que o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano em 380 da era cristã, os aspectos mais patriarcais e autoritários se tornaram dominantes como um reflexo do Estado Romano que a Igreja passou a representar. Com a queda do Império Romano em 476 e com o declínio da cultura e da civilização na Europa Ocidental e Meridional, uma abordagem autoritária e patriarcal do Cristianismo, caracterizada pelo medo, superstição e conservacionismo prevaleceu.
Aqueles aspectos da cultura greco-romana que a Igreja permitia tinham que se adequar à visão do Cristianismo do Velho Testamento no qual a carne era considerada pecaminosa.

  • INFLUÊNCIAS DA IDADE MÉDIA

O aspecto da filosofia greco-romana desenvolvido por filósofos da Idade Média, tais como Tomás de Aquino, foi a validação do poder da razão. Ao enfatizar a razão e rejeitar o corpo, a mente e o corpo tornaram-se oficialmente separados.
Curiosamente, a maior parte da filosofia e da ciência gregas foi preservada pelos árabes cuja cultura experimentou um renascimento na Idade Média.

A Idade Média recebe esse nome porque representa o tempo entre o grande florescimento do Humanismo, na cultura grega, e o renascer do Humanismo, com o Renascimento, no final do século 14.

  • INFLUÊNCIAS DO RENASCIMENTO

Durante o Renascimento, o corpo nu foi revitalizado na arte, e as grandes tradições da pintura e da escultura grega foram revividas. Os filósofos gregos clássicos, tais como Platão e Aristóteles, voltaram a estar em voga.

Dois aspectos importantes desenvolvidos no Renascimento tiveram influência poderosa na nossa percepção do corpo-mente-espírito:

  1. o ressurgimento do humanismo e a importância do indivíduo.
  2. a expansão do questionamento sobre a natureza da vida, o que criou as condições para a ciência moderna.
  • INFLUÊNCIAS DA INQUISIÇÃO

Também houve a atuação de forças contrárias durante o Renascimento. A Igreja Católica e as monarquias europeias trabalharam conjuntamente para esmagar qualquer divergência à doutrina cristã. O Humanismo e outras heresias, tais como a ideia de que o corpo poderia ser divino, ameaçavam o monopólio do poder medieval da Igreja e da monarquia. Durante os séculos 15 e 16, o Estado/Igreja iniciou uma Inquisição que era, de fato, um genocídio sistemático de místicos e curandeiros de todo tipo, com ênfase especial nas mulheres. Oito milhões de mulheres místicas e curandeiras foram assassinadas pela Igreja Católica e pelas elites de poder, aliadas por um período de tempo de trezentos anos.

Esse fato destruiu essencialmente todas as raízes da integração corpo-mente-espírito e as influências curativas ainda remanescentes da cultura grega.

Estes jardins árabes em Alhambra, Granada, Espanha, nos faz lembrar a atmosfera multicultural e relativamente liberal que existia em muitas partes da Europa antes da Inquisição. Durante a Inquisição na Espanha, árabes e judeus foram exilados e qualquer um que tivesse algum tipo de pensamento divergente era severamente punido.

O desenvolvimento da ciência aconteceu neste meio de repressão tremenda às novas ideias. Cientistas e filósofos, tais como Galileu, foram punidos por heresias, como a afirmação de que o planeta Terra girava em torno do sol. Giordano Bruno, um filósofo e humanista do Renascimento, disse que Deus estava presente em toda a natureza e que o universo era infinito. Foi queimado no pelourinho, em Roma, por sua heresia em 1600. Os castigos eram mais do que severos para fazer qualquer pessoa pensar seriamente antes de praticar curas integrando corpo-mente. Ao mesmo tempo, a conquista da América com brutal genocídio destruiu as tradições de cura xamânica no nosso continente.

  • INFLUÊNCIAS DA VISÃO MECANICISTA DO CORPO

O desenvolvimento da ciência não poderia ser interrompido, mas muitos compromissos tiveram que ser assumidos com os poderes vigentes. Um desses estava centralizado na natureza do corpo. Com o despertar da ciência no Renascimento, havia um interesse em explorar o corpo de modo mais completo através da dissecação. Esta prática era condenada pela Igreja, porque se dizia que o corpo era o repositório da alma. Este conflito entre a Igreja e a ciência foi solucionado pela redefinição dos limites da alma. A alma foi transferida do corpo para a mente e diferentes territórios foram destinados à Igreja e à ciência. A ciência trataria do corpo, mas não interferiria na mente ou alma, que permaneceria no domínio da Igreja. A Igreja, por outro lado, concordaria tacitamente em relegar o corpo à posição de um objeto para ser investigado e quantificado como qualquer outro objeto da ciência. A ciência continuou, então, sua exploração do ser humano com a mente e o espírito retirados de seu campo de investigação.

Este era o cenário quando o filósofo francês René Descartes faz sua entrada no começo de 1600.
Descartes observara o crescimento da ciência e da matemática e sentiu que a filosofia deveria ter a mesma base empírica de certeza. Descartes postulou, em consonância com os desenvolvimentos que estavam ocorrendo na ciência, que o corpo é uma máquina que obedece a leis naturais fixas. Ele também acreditava que a mente pode funcionar independentemente do corpo. Ele exaltou o poder da razão e descobriu que o primeiro princípio verdadeiro e certo que pode ser assumido seria: “Penso; logo, existo”. O conceito de Descartes do corpo como uma máquina separada da mente e da alma lançou a base para a maior parte da filosofia e da ciência até nossos dias.

  • INFLUÊNCIAS DA REFORMA PROTESTANTE

O monopólio de poder da Igreja foi diminuído pela Reforma Protestante, no século dezesseis, mas a separação entre corpo-mente-espírito não. Martinho Lutero, mais tarde, expandiu a importância do indivíduo ao manter que o homem era seu próprio elo com Deus. Esse era um Deus de fogo e enxofre que pedia ao homem para renunciar à carne. Lutero considerou a humanidade corrompida pela queda da Graça no tempo de Adão e Eva. O homem poderia redimir-se através:
– da fé,
– da moralidade e
– do trabalho árduo.

O trabalho árduo era visto como uma compensação pela culpa do pecado original! Na visão de Lutero, o papel do indivíduo torna-se mais importante, mas, também, mais negativo e é, na verdade, uma regressão ao patriarcalismo do Velho Testamento com o elemento adicional da ética do trabalho como meio de salvação.

A ética do trabalho, o puritanismo e o individualismo juntaram-se com a visão mecanicista do corpo e produziram duas outras bases importantes da nossa perspectiva sobre o conceito corpo-mente-espírito:

  1. A ciência causou o aparecimento da revolução tecnológica que, combinada com a ética do trabalho, resultou no mito do progresso. Essa é a ideia de que o tempo e a história são lineares. Com o tempo, a ciência e a tecnologia, aliadas ao trabalho árduo, criariam um mundo melhor, no qual todos os segredos da natureza seriam revelados. As atuais crises do aquecimento global e outros problemas do meio ambiente apontam para a natureza mítica e enganosa dessa crença.
  2. Quando se acrescenta o individualismo à ética do trabalho e ao materialismo científico, o resultado é o mito do sucesso. Esta é a ideia pela qual todo aquele que trabalhando arduamente e usando a inteligência científica racional com a correta tecnologia poderia ver realizados todos os seus objetivos pessoais desejados. Este foi o modelo dos Estados Unidos dos anos 50. Apesar do sucesso ter produzido abundância material, a visão materialista do ser humano deixou tanto a mente, quanto os espíritos insatisfeitos, levando ao neorromantismo dos hippies na década de 60 e no começo da de 70.
  • A BUSCA DO PENSAMENTO ORIENTAL

A inquietação daquela geração girava em torno da percepção de que enquanto a tecnologia estava melhorando a vida material, as pessoas estavam mais infelizes do que nunca, e a vida moderna estava cheia de agentes estressores que não existiam nas sociedades menos desenvolvidas. Este questionamento levou a uma busca mais humanística do ser e a viagens à Índia, onde a separação entre corpo-mente-espírito não tinha ocorrido de forma tão dramática. A emergência da religião oriental e da cura mente-corpo é o resultado desse novo humanismo nos Estados Unidos dos anos 60.

INFLUÊNCIAS DA RETOMADA DA VISÃO DE INTEGRAÇÃO CORPO-MENTE-ESPÍRITO

Hoje, nos encontramos numa nova fase, onde a integração do corpo-mente-espírito está se tornando parte da corrente central de nossa cultura. A ciência e a medicina respaldam a conexão corpo, mente e espírito, em vez de trabalhar contra ela.

Mesmo que a integração corpo-mente-espírito se torne parte da corrente central de nossa cultura, as noções inconscientes e subjacentes que influenciam a percepção básica do ser humano estão tão entranhadas, que afetam nossas vidas por inteiro, nosso sistema de saúde e mesmo a maneira como vemos e praticamos Yoga.

O Yoga descontraído dos hippies nos anos 60 e 70 está se tornando o Yoga empresarial do novo milênio, à medida que o Yoga assume um pouco mais do legado dos mitos do progresso e do sucesso. O Yoga se direciona para a realização e o sucesso, com ênfase nos objetivos pessoais do indivíduo. As próprias aulas de Yoga estão adquirindo um ritmo mais ágil, direcionadas para um objetivo, como se houvesse algo a atingir.
Muitas vezes o corpo é visto como matéria-prima que é submetida a um processo tecnológico (Yoga) para atingir o sucesso, através de um trabalho árduo, para obter melhor saúde, postura, aparência, etc. Esta abordagem do Yoga seria quase incompreensível para os primeiros yoguis que desenvolveram a ciência do Hatha Yoga.

Criatividade como uma ferramenta na Yogaterapia

Mapeamento corporal e mandalas são excelentes para compartilhar as informações recebidas no exercício de conscientização, expressar conceitos e sentimentos que estão além da linguagem e aprofundar a jornada de autoconhecimento e cura integral

A arte e a criatividade são ferramentas importantes para a jornada de autoconhecimento e cura. Na Yogaterapia, elas são muito usadas em atendimentos em grupo ou sessões individuais, pois elas integram a parte educativa e mostram ao yogaterapeuta se o tema foi compreendido.

Além disso, os desenhos e pinturas oferecem uma forma diferente e criativa de compartilhar as informações recebidas no exercício de conscientização; são um meio de expressar conceitos e sentimentos que estão além da linguagem, como conexão com o espírito ou abertura do coração; tornam o tema uma experiência vivida que pode então ser levada através de toda a classe.

Listamos abaixo 5 formas de usar a criatividade na Yogaterapia. Cada uma delas é direcionada para um tema e objetivo específicos e é acompanhada de uma afirmação. Você pode praticar em casa ou com amigos e talvez conhecer um pouco mais de si mesmo através da arte. Para praticar, vamos precisar apenas de papel, tintas ou lápis de colorir e a sua criatividade. Vamos lá?

1 – Desenhe um contorno do seu corpo e pinte as áreas em que você está totalmente presente e aquelas que talvez você se sinta fora de contato. Escolha uma cor para cada uma destas partes.

Objetivo: Aumentar a consciência corporal
Tema: A consciência corporal é essencial para a cura porque só podemos curar o que podemos sentir. Uma maior consciência torna-nos parceiros em vez de espectadores em nosso processo de cura.
Exercício experiencial: faça a varredura através do corpo e observe as áreas que você pode sentir e se comunicar com facilidade e as que parecem mais difíceis de se comunicar.
Desenho: use um mapa de corpo pequeno para mostrar as áreas do corpo que você se sente totalmente e facilmente presente, e aqueles que você se sente especialmente fora de contato. Escolha uma cor para cada uma destas partes.
Afirmação: “Cultivando maior sensibilidade, eu me torno um parceiro em minha própria cura“.

2 – Desenhe cada um dos seus centros energéticos, usando cores para demonstrar quais estão energizados e quais estão com menos energia. Use as cores dos respectivos chakras.

Objetivo: Desenvolver a consciência da energia da vida
Tema: A consciência do fluxo de energia da força vital é essencial para cura, visto que as várias áreas do corpo e os diferentes sistemas corporais dependem dele para o seu cuidado. A consciência da falta de energia nos permite trazê-las de volta ao estado de equilíbrio.
Exercício experiencial: mentalmente tome consciência dos 7 centros de energia (chakras), visualizando cada um como uma esfera de energia colorida que se expande e relaxa com a respiração. Observe aqueles centros que parecem energizados completamente e os que você sente faltar energia.
Desenho: use um mapa de corpo pequeno para mostrar os centros que estão totalmente energizados e aqueles que estão faltando energia. Use as cores dos centros de energia.
Afirmação: “Como o meu corpo está cheio de energia vibrante, a cura ocorre naturalmente“.

3 – Faça um contorno do seu corpo. Use cores para identificar quais as áreas de tensão e quais estão relaxadas.

Objetivo: Redução de estresse
Tema: A consciência do estresse e de onde ele vive em nosso corpo é essencial para a sua liberação. À medida que tomamos consciência de áreas de estresse crônico, ganhamos a capacidade de gerenciá-lo. Perceber as áreas de relaxamento também é importante porque nos dá uma noção do que queremos que nosso corpo sinta.
Exercício experiencial: varredura através do corpo, descobrindo as áreas de gatilho para o estresse e tensão e também as áreas relaxadas.
Desenho: use um mapa de corpo pequeno para mostrar as áreas que se encontram tensas e as áreas mais relaxadas. Escolha uma cor diferente para cada.
Afirmação: “Como eu aprendo a relaxar completamente, a cura ocorre naturalmente

4 – FAÇA UM DESENHO DO SEU CORAÇÃO, PINTANDO COM CORES DIFERENTES AS ÁREAS QUE VOCÊ SENTE MAIS ABERTAS E FECHADAS E ASSOCIE SENTIMENTOS ÀS CORES.

Objetivo: Cura do Coração
Tema: Nossas emoções desempenham um papel importante na cura, porque as mesmas, se negativas, podem restringir o fluxo de energia vital. A capacidade de ver e comunicar nossos sentimentos é uma parte importante para reequilibrá-los.
Exercício experiencial: visualize um coração no centro do seu peito e observe quais as áreas são mais abertas e quais são mais fechadas. Observe os sentimentos que vivem em cada uma.
Desenho: use um pedaço de papel em branco e desenhe o contorno do seu coração . Identifique com diferentes cores as áreas que você sente mais abertas e as áreas que você sente mais fechadas e os sentimentos que você associa a cada uma.
Afirmação: “Quando abro o coração ao sentimento, liberto a causa da doença

5 – DESENHE O CÍRCULO DA SUA EXISTÊNCIA. EXPRESSE DE QUE FORMA VOCÊ É O CENTRO DA SUA VIDA, COM AUTODOMÍNIO E AUTONOMIA

Objetivo: Centramento
Tema: Centrar é encontrar um centro firme de paz e segurança dentro do próprio ser. Deste lugar de centramento, as qualidades positivas como a paz e a equanimidade se desdobram naturalmente.
Exercício experiencial: visualize um eixo de centramento correndo pelo seu corpo e sinta-se como o centro da sua vida, com domínio e autonomia, revelando todo o seu talento e potencial único para alcançar o seu propósito de vida e destino.
Desenho: desenhe a sua experiência de centrar-se no círculo, usando o círculo da forma que desejar.
Afirmação: “Centrado no meu Ser, eu vivo uma vida de Paz e Significado

*material adaptado do Manual da Formação Profissional em Yogaterapia