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Yoga Sutras: Desapego e ausência de desejo

tat paraṁ puruṣakhyāter guṇa vaitṛṣṇyaṁ 

Essa forma absoluta de desapego é a ausência de desejo mesmo em relação aos guṇas através da experiência direta de puruṣa, o Ser Real.” – Sutra 1.16

 

Este sutra afirma que a forma mais elevada de desapego envolve a liberação de todo apego, inclusive aos três gunas, as forças fundamentais da natureza. O que são essas forças e como podemos nos desapegar delas?

Os gunas são as polaridades fundamentais de toda a natureza, incluindo nossos próprios corpos.

Rajas é a polaridade da energia; é o que motiva todas as nossas ações e conquistas; todo o nosso desejo de obter, seguido pelo desejo de manter é resultado de rajas.Rajas também é o desejo, e até mesmo a ganância, de obter cada vez mais. É também a raiva quando não conseguimos o que queremos e o ciúme quando alguém consegue.

Tamas é a polaridade oposta de rajas; é a inércia e a letargia, a falta de motivação e a resistência a fazer o que precisa ser feito. É também a falta de propósito e significado, a falta de direção na qual vagamos pela vida satisfeitos com prazeres sensoriais momentâneos, mas sem um rumo definido.

Sattva é o equilíbrio; De certa forma, é um ponto intermediário entre rajas e tamas, pois nos dá energia para suprir nossas necessidades básicas, mas reconhece que as coisas materiais não são fins em si mesmas, apenas meios para reconhecer nossa verdade mais profunda, que é o nosso verdadeiro Ser.

O estado sátvico está intimamente ligado à saúde física e psicoemocional, pois o equilíbrio na forma como percebemos a vida cultiva o equilíbrio no sistema nervoso autônomo e em todos os sistemas e órgãos do corpo.

O caminho para dominar os gunas e, assim, experimentar o desapego absoluto começa com a consciência. Ao longo do dia e da semana, podemos questionar qual guna ou combinação de gunas está presente em nossos pensamentos, sentimentos e no corpo físico.

Podemos então questionar se essa atividade dos gunas está realmente nos levando aonde queremos chegar. Estamos aprofundando nosso autoconhecimento, felicidade e paz, ou estamos nos afastando de onde queremos estar?

Em seguida, avaliamos nossas atitudes e crenças, pois os gunas que experimentamos no dia a dia sempre serão um reflexo delas. Será que essas atitudes refletem nossa intenção mais elevada e o significado mais profundo de nossa vida?

Por meio desse processo, podemos analisar tanto os gunas, conforme se manifestam em nossas vidas, quanto as atitudes que os geram, conduzindo gradualmente à liberação de pensamentos e sentimentos, e seus efeitos sobre o corpo, que não servem mais à nossa jornada.

Finalmente, liberamos nosso Ser interior nesse eu mais profundo, em meditação, para habitar a paz e a tranquilidade sátvicas como um portal para o propósito e o significado mais profundos de nossa vida.

Por Joseph le Page